A Arte de Vender Franquias: Um Olhar Comparativo entre Brasil e América do Norte
Andrius Rafael Michielin Dias
11/5/20243 min read


Ao longo da minha jornada atendendo clientes no Canadá e nos Estados Unidos, percebi diferenças significativas na forma como os negócios são apresentados aos investidores em comparação com o Brasil. Essas diferenças não são apenas superficiais, mas refletem profundamente as culturas empresariais distintas de cada região. Neste artigo, convido você a explorar comigo cinco aspectos fundamentais que distinguem o discurso de venda de franquias nesses países.
O Jogo da Informação: Dados de Mercado e Análise
No cenário brasileiro, os consultores de franquias geralmente assumem o papel de educadores de mercado. Eles chegam às reuniões armados com um arsenal de dados, estatísticas de crescimento do setor e tendências de consumo específicas para a região de interesse do potencial franqueado. É como se estivessem pintando um quadro detalhado do mercado, guiando o investidor através de cada pincelada.
Em contraste, do outro lado do continente, nos Estados Unidos e Canadá, o jogo muda completamente. Lá, espera-se que o potencial franqueado já tenha feito sua lição de casa. Os consultores não estão lá para dar uma aula sobre o mercado, mas para discutir como a franquia se encaixa no cenário que o investidor já deveria conhecer. É como se o investidor fosse convidado a trazer suas próprias cores para a tela, com o consultor oferecendo o pincel perfeito para aplicá-las.
O Perfil Ideal: Quem Pode Vestir a Camisa?
No Brasil, a busca pelo franqueado ideal muitas vezes se assemelha mais a um casamento arranjado com potencial para o amor florescer. A experiência prévia, embora valorizada, não é necessariamente o fator decisivo. O foco recai sobre a capacidade de investimento e, mais importante, o alinhamento com a cultura da franquia. Os consultores brasileiros frequentemente pintam um quadro de suporte contínuo e transferência de conhecimento, como se dissessem: "Não se preocupe, vamos crescer juntos".
Já na América do Norte, o processo de seleção lembra mais um recrutamento para uma equipe de elite. A experiência empresarial e o conhecimento específico do setor não são apenas desejáveis, são praticamente pré-requisitos. Os consultores buscam candidatos que já tenham as ferramentas necessárias em mãos, prontos para entrar em campo e marcar gols desde o primeiro dia.
Suporte: Andadores ou Asas?
O suporte oferecido pelas franquias brasileiras muitas vezes se assemelha a um abraço caloroso e constante. Treinamento inicial, assistência em marketing local, suporte operacional - tudo isso é enfatizado como parte integral do pacote. É como se o franqueador estivesse dizendo: "Estamos aqui para segurar sua mão a cada passo do caminho".
No contexto norte-americano, o suporte existe, mas é apresentado mais como um trampolim do que como um andador. O foco está na robustez dos sistemas operacionais e na autonomia que o franqueado terá. A mensagem subliminar é clara: "Damos as ferramentas, mas confiamos que você saberá usá-las".
O Retorno: Números Imediatos ou Visão de Longo Prazo?
Nas discussões sobre retorno de investimento (ROI) no Brasil, os consultores frequentemente se armam com planilhas detalhadas. Estudos de caso e projeções financeiras são apresentados como mapas do tesouro, mostrando o caminho para a rentabilidade.
Nos Estados Unidos e Canadá, embora o ROI seja importante, a conversa tende a se expandir para horizontes mais amplos. A escalabilidade do negócio e o potencial de crescimento em múltiplas unidades dominam a discussão. É como se o consultor estivesse convidando o investidor a olhar não apenas para a árvore à sua frente, mas para toda a floresta de oportunidades.
A Receita da Negociação: Feijoada ou Fast Food?
No Brasil, o processo de negociação muitas vezes se assemelha ao preparo de uma feijoada. É um processo lento e cuidadoso, onde os ingredientes são adicionados gradualmente, cada um em seu tempo. Os consultores, como chefs experientes, misturam elementos pessoais e relacionais, deixando a confiança cozinhar em fogo brando. Eles adotam uma abordagem quase artesanal, buscando entender e atender às preferências específicas de cada "cliente-investidor".
Do outro lado, nas negociações norte-americanas, o estilo é mais parecido com um restaurante fast food eficiente. O menu é claro, as opções são bem definidas, e o processo é rápido e padronizado. As discussões são focadas em "ingredientes" mensuráveis - os dados. Cada etapa do "pedido" é calculada e registrada com precisão. Espera-se que ambas as partes saibam exatamente o que querem e estejam prontas para uma transação rápida e direta desde o momento em que entram pela porta.
Conclusão: Um Mundo de Possibilidades
Ao refletir sobre essas diferenças, fica claro que não existe uma abordagem universalmente superior. Cada método tem seus méritos e desafios. O segredo para o sucesso global pode estar na capacidade de criar uma coreografia que combine o melhor dos dois mundos - a calorosa adaptabilidade brasileira com a estruturada objetividade norte-americana.
Para franqueadores e franqueados que aspiram a uma presença internacional, compreender essas nuances culturais não é apenas interessante - é essencial. À medida que o mundo dos negócios se torna cada vez mais interconectado, aqueles que puderem navegar habilmente por essas águas culturais diversas estarão melhor posicionados para florescer em mercados globais.